Atualização do Sistema de Bethesda 2023.

Atualização sistema Bethesda

O sistema Bethesda é uma metodologia de padronização de análise e classificação de Risco de Malignidade de citologia de nódulos de tireoide, está sempre passando por mudanças e atualizações para manter os médicos atualizados sobre os avanços mais recentes no tratamento e manejo de doenças da tireoide. 

Neste artigo, daremos uma olhada nas novas atualizações, destacando as mudanças mais relevantes que você precisa saber e como elas afetam diretamente o atendimento ao paciente.

O sistema Bethesda

Conforme as tecnologias vão se aprimorando, novos processos e práticas vão se alterando e se adaptando a elas. Descobertas científicas, novos exames, resultados clínicos, tudo isso traz novos conhecimentos aos médicos e indicações de como eles podem tratar diferentes casos clínicos. 

O sistema Bethesda oferece um norte, ou seja, um caminho para os médicos em como eles podem tratar, estudar e investigar nódulos na tireoide. Neste artigo mostramos como ele funciona. 

O guia para laudos de punção de tireoide foi introduzido pela primeira vez em 2007 e passou por revisões e atualizações em 2010 e 2017. A terceira edição, com as últimas atualizações, foi publicada neste ano de 2023.

O que tem de novidade? 

De forma mais prática, vamos trazer as principais mudanças dessa nova atualização do sistema de Bethesda: 

Simplificação das categorias diagnósticas


Essa edição traz como um dos seus focos a simplificação das categorias diagnósticas com nomes “únicos” para cada categoria. 

 

O sistema tem um padrão de 6 categorias descritivas, que comumente são abreviadas pelos numerais que vão de I a VI, com cada uma representando uma porcentagem de risco de câncer. Com as novas mudanças elas agora são nomeadas da seguinte forma:

 

Sistema Bethesda para Notificação de Citopatologia da Tireoide:

Categorias diagnósticas recomendadas

2017 x 2023

Categoria Bethesda

Características

2017

(como era)

2023

(como ficou)

Bethesda I

Não diagnóstico

  • Amostra com baixo número celular;
  • Somente líquido nodular
  • Problemas na coleta, sangue na amostra, etc
 Se manteve
Bethesda II

Benigno

  • Nódulo folicular benigno (inclui nódulo adenomatóide, nódulo colóide, etc)
  • Amostra consistente com tireoidite linfocítica (Hashimoto) no contexto clínico adequado
  • Amostra consistente com tireoidite granulomatosa (subaguda)
 Se manteve
Bethesda III

Indeterminado

  • Atipia de significado indeterminado (AUS) ou lesão folicular de significado indeterminado (FLUS)
  • AUS-atipia nuclear
  • AUS-outros 
Bethesda IV

Indeterminado

  • Neoplasia folicular ou suspeita de neoplasia folicular
  • Especificar neoplasias de células de Hürtle 
  • Neoplasia folicular**
  • Especificar neoplasias de células de Hürtle
Bethesda V

Suspeito de Malignidade

  • Suspeito de carcinoma papilífero
  • Suspeito de carcinoma medular
  • Suspeito de carcinoma metastático
  • Suspeito de linfoma
Se manteve
Bethesda VI

Maligno

  • Carcinoma papilífero de tireoide
  • Carcinoma pouco diferenciado
  • Carcinoma medular de tireoide
  • Carcinoma indiferenciado (anaplásico)
  • Carcinoma de células escamosas
  • Carcinoma com características mistas (especificar)
  • Carcinoma metastático
  • Linfoma não Hodgkin
  • Outros
  • Carcinoma papilífero de tireoide
  • Carcinoma derivado folicular de alto grau
  • Carcinoma medular de tireoide
  • Carcinoma indiferenciado (anaplásico)
  • Carcinoma de células escamosas
  • Carcinoma com características mistas (especificar)
  • Carcinoma metastático
  • Linfoma não Hodgkin
  • Outros

Atualização do ROM (Risco de Malignidade) de cada categoria 

Outro ponto dessa nova edição foi a atualização dos riscos de malignidade para cada categoria, para adultos (+18 anos) da seguinte forma: 

 

Sistema Bethesda para Notificação de Citopatologia da Tireoide:

Risco de Malignidade

Categoria diagnósticaRisco de Malignidade

(ROM)

2017

(como era)

2023

(como ficou)

Risco de malignidade (%)

Média (intervalo) (%)

Bethesda I

Não diagnóstico

1-4

13 (5-20)

Bethesda II

Benigno

0-3

4 (2-7)

Bethesda III

Indeterminado

5-15

22 (12-30)

Bethesda IV

Indeterminado

15-30

30 (23-34)

Bethesda V

Suspeito de Malignidade

60-75

74 (67-83)

Bethesda VI

Maligno

97-99

97 (97–100)

 

Inclusão da tabela de risco de malignidade (ROM) para pacientes pediátricos 

 

Uma das novidades da edição de 2023 foi a inclusão do ROM (Risk Of Malignancy) ou seja, risco de malignidade, exclusiva para pacientes pediátricos. 

Isso significa uma nova abordagem que pode ser muito útil aos médicos na tomada de decisão dos pacientes pediátricos, visto que o risco de malignidade infantil é maior que o de pessoas adultas, logo uma classificação exclusiva a esse grupo, pode trazer tratamentos e condutas mais assertivas.

O ROM infantil ficou da seguinte maneira para cada classificação do sistema de Bethesda: 

 

Sistema Bethesda para Notificação de Citopatologia da Tireoide:

Risco de malignidade para pacientes pediátricos

Categoria diagnóstica

Risco de Malignidade

(ROM)

2023

Média (intervalo) (%)

Bethesda I

Não diagnóstico

14% (0–33%)

Bethesda II

Benigno

6% (0–27%)

Bethesda III

Indeterminado

28% (11–54%)

Bethesda IV

Indeterminado

50% (28–100%)

Bethesda V

Suspeito de Malignidade

81% (40–100%)

Bethesda VI

Maligno

98% (86–100%)

Inclusão da recomendação de testes moleculares para Bethesda V

Uma das principais novidades que tivemos nesta edição foi a alteração no manejo clínico recomendado de acordo com a categoria de Bethesda. 

A novidade é a inclusão da recomendação dos testes moleculares em amostras Bethesda V com a função prognóstica, ou seja, análise de biomarcadores que indicam agressividade e urgência cirúrgica do nódulo classificado como Bethesda V.

 

Sistema Bethesda para Notificação de Citopatologia da Tireoide:

Manejo clínico recomendado

Categoria diagnóstica

Manejo habitual*

2017

(como era)

2023

(como ficou)

Bethesda I

Não diagnóstico

Repetir a PAAF com orientação por ultrassom

Se manteve

Bethesda II

Benigno

Acompanhamento clínico e ultrassonográfico

Se manteve

Bethesda III

Indeterminado

  • Repetir PAAF
  • *Teste molecular*
  • Lobectomia
  • Repetir PAAF
  • *Teste molecular*
  • Lobectomia
  • Vigilância ativa
Bethesda IV

Indeterminado

  • *Teste molecular*
  • Lobectomia
  • *Teste molecular*
  • Lobectomia diagnóstica
Bethesda V

Suspeito de Malignidade

  • Tireoidectomia
  • Lobectomia
  • *Teste molecular*
  • Tireoidectomia
  • Lobectomia
Bethesda VI

Maligno

  • Tireoidectomia
  • Lobectomia

Se manteve

 

Como podemos ver com a nova atualização, os testes moleculares ganham cada vez mais relevância e um capítulo exclusivo para eles. 

O Sistema Bethesda reforça a utilização de testes moleculares para pacientes com nódulo indeterminado, como por exemplo o mir-THYpe full, pois os mesmos podem trazer apoio para o médico ao dizer se o nódulo que foi classificado como indeterminado é benigno ou maligno, com a possibilidade de evitar cirurgias diagnósticas desnecessárias. 

E como novidade traz a indicação dos testes moleculares prognósticos para categorias onde a cirurgia é indicada devido ao risco de malignidade (Bethesda V).

Nesse cenário, testes moleculares prognósticos pré-operatórios, como o mir-THYpe pre-op, mostram sua relevância na prática clínica mais uma vez. 

Com ele, através de marcadores moleculares prognósticos, é possível ter uma investigação do nódulo com indicação cirúrgica, o que leva a uma cirurgia personalizada para casos classificados como Bethesda V e também VI.

É fundamental nos mantermos atualizados sobre as melhores abordagens e recomendações. A tecnologia vem para trazer mais tranquilidade às pessoas e nós da Onkos trabalhamos para que os pacientes possam ter o que há de mais novo e moderno em testes moleculares, para assim, impactar cada vez mais vidas. 

 

Referências: 


The Bethesda System for Reporting Thyroid Cytopathology: Definitions, Criteria, and Explanatory Notes.
https://www.liebertpub.com/doi/epdf/10.1089/thy.2023.0141


The 2017 Bethesda System for Reporting Thyroid Cytopathology | Thyroid-
https://www.liebertpub.com/doi/full/10.1089/thy.2017.0500

Marcos Santos, Ph.D
Biólogo molecular, pesquisador, doutor em genética humana e fundador da Onkos Diagnósticos Moleculares