Câncer de Origem Primária Desconhecida (CUP): um desafio diagnóstico!

Você já imaginou descobrir um câncer metastático, fazer todas as investigações possíveis e não conseguir encontrar o órgão de origem dele?

Pois esse é o conceito do câncer de origem primária desconhecida ou CUP (do inglês, Cancer of Unknown Primary). Vamos entender mais sobre ele e qual a importância de saber essa origem?

 

O câncer

O câncer pode afetar diversos tecidos e órgãos do corpo humano e, em alguns casos, pode se espalhar para áreas diferentes de onde o tumor teve início (origem), essas situações são conhecidas como câncer metastático.

Mesmo quando o câncer se espalha para outras partes do corpo, geralmente os médicos conseguem identificar a origem primária do tumor, ou seja, onde ele se iniciou. Contudo, podem existir desafios diagnósticos para essa identificação, que acometem cerca de 5% de todos os pacientes com câncer.

Os casos de câncer metastático sem tumor primário (origem) identificado, mesmo após extensa investigação por diferentes testes e exames (tanto de imagem, quanto laboratorial), são chamados de câncer de origem primária desconhecida, ou CUP, que é como vamos chamar no decorrer do texto.


Incidência

O CUP representa cerca de 3-5% de todos os diagnósticos de câncer no mundo.

Já no Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) em 2022 divulgou uma atualização das estatísticas referentes ao número de casos de câncer para cada ano do triênio 2023-2025 e de acordo com as informações fornecidas, a projeção é de 704 mil novos casos de câncer anualmente no Brasil e dentro dessa projeção, são esperados aproximadamente 21.000 novos casos de CUP para o triênio de 2023 – 2025.

 

Incidência de Câncer no Brasil, de acordo com INCA

 

Por que é um desafio diagnóstico? 

 

A identificação da origem primária muitas vezes é dificultada pois, os CUPs podem se manifestar de várias maneiras e os sintomas podem ser inespecíficos. Isso dificulta a identificação da origem primária com base nos sintomas ou na apresentação clínica, por exemplo. 

 

Os CUPs também podem apresentar uma variedade de características histológicas (microscópicas) que diferem das células típicas do tecido em que são encontrados. Isso complica a correlação entre a aparência das células cancerígenas e a identificação da origem primária.

 

A abordagem para pacientes com CUP, geralmente envolve uma variedade de testes, incluindo histologia, imuno-histoquímica e testes de imagem, permitindo um diagnóstico inicial e a orientação para um exame com maior precisão, porém, eles não são suficientes por si só, assim não trazem certezas na hora do diagnóstico, o que dificulta tratamentos específicos e algumas abordagens médicas. 

 

Qual o problema disso? 

 

Quando não identificamos a origem primária de um câncer, usualmente, o tratamento é generalista, por isso a resposta aos tratamentos associado aos casos de CUP geralmente é pouco assertiva. Além de afetarem muito a qualidade de vida do paciente durante o tratamento.

 

Além disso, casos de CUP compartilham características como rápida disseminação, uma maior agressividade e um padrão metastático imprevisível. Cerca de 80% dos pacientes não respondem bem à quimioterapia, o que destaca ainda mais a importância de um diagnóstico preciso e de terapias-alvo que auxiliem na sobrevida do paciente.

 

Uma alternativa.

 

Uma opção para superar esses obstáculos é a análise molecular.

 

A análise molecular de uma metástase, ou de tumor, tem se destacado por sua capacidade mais precisa de identificar as características do câncer, com base em elementos genéticos, como mutações específicas de DNA ou expressão de determinados genes, por exemplo. O desenvolvimento de exames nessa área está em constante avanço.

 

Com base nas informações obtidas por meio da abordagem molecular, torna-se possível direcionar uma terapia personalizada para cada paciente, conhecida como terapia-alvo.

A terapia-alvo pode ser determinada, a partir da determinação de alterações genéticas no tumor, específica de cada paciente.

 

A identificação do sítio primário do CUP, assim como a determinação de alterações genéticas, desempenha um papel crucial para um prognóstico mais preciso e tratamentos assertivos, contribuindo assim para melhorar a qualidade de vida do paciente. 

 

Com isso, a análise molecular possibilita uma abordagem personalizada para o tratamento de pacientes com diferentes tipos de tumor. Essa personalização de tratamento está inserida no conceito de Medicina de Precisão e pode aprimorar significativamente os resultados dos tratamentos, adaptando-se às características genéticas únicas de cada paciente.

 

 

 

Referências:

Cancer of unknown primary: ESMO Clinical Practice Guideline for diagnosis, treatment and follow-up

https://www.annalsofoncology.org/article/S0923-7534(22)04769-X/fulltext

 

How to Diagnose and Treat a Cancer of Unknown Primary Site
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28338116/


Cancer of unknown primary-Epidemiological trends and relevance of comprehensive genomic profiling 

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30019510/

 

BRASIL. Ministério da Saúde. INCA estima 704 mil casos de câncer por ano no Brasil até 2025. Disponível em:

<https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/noticias/2022/inca-estima-704-mil-casos-de-cancer-por-a no-no-brasil-ate-2025>. Acesso em: 01 Fev. 2024.

Marcos Santos, Ph.D
Biólogo molecular, pesquisador, doutor em genética humana e fundador da Onkos Diagnósticos Moleculares