Carcinoma medular de tireoide: saiba tudo sobre esse câncer raro!

O câncer de tireoide é a forma de câncer endócrino mais frequente¹ e sua incidência vem aumentando nas últimas décadas. Estes tumores afetam mais as mulheres do que os homens e a faixa etária de maior risco está entre 35 e 65 anos. Neste artigo falaremos sobre um dos subtipos mais raros, porém um dos mais agressivos, o Carcinoma Medular.

 

O que é o Carcinoma Medular de Tireoide (CMT)?

O carcinoma medular de tireoide (CMT), é uma forma de câncer raro², responsável por 3-4% dos tumores malignos da glândula tireoide. Ele pode se apresentar de duas formas: esporádica (ou seja, sem histórico familiar) ou hereditária (herdado geneticamente dos pais). Aproximadamente 25% dos casos de CMT são hereditários e decorrentes de mutações no gene RET (REarranged during Transfection)³, mas falaremos mais dessas mutações no decorrer do texto! O diagnóstico precoce é extremamente relevante, uma vez que sua evolução pode ser bastante agressiva.

 

Origem do câncer medular de tireoide.

Normalmente os cânceres de tireoide tem origem a partir das células foliculares da tireoide, sendo responsáveis pela produção dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina). Já o carcinoma medular de tireoide tem uma origem diferente, pois se origina das células C parafoliculares, que produzem um hormônio chamado calcitonina, que tem sua principal função ligada às atividades ósseas, como ilustra a imagem abaixo.

 

Identificação do câncer medular de tireoide e biomarcadores

A manifestação clínica mais comum do carcinoma medular de tireoide é o nódulo tireoidiano. Porém, a incidência de nódulos na tireoide na população adulta é elevada, logo, o nódulo sozinho não é um indicativo direto de câncer medular de tireoide, e é aí que entram os biomarcadores.

Os biomarcadores são muito úteis no diagnóstico, já que sua presença (ou ausência) indica se um organismo está bem, ou se há um indício de que algo está errado⁴.

A calcitonina, por exemplo, é um conhecido biomarcador do CMT, por isso, sua dosagem é recomendada na prática médica.

Entretanto, a dosagem de calcitonina na investigação do câncer medular de tireoide pode apresentar alguns problemas:

  1. Estabilidade: a calcitonina não é um hormônio muito estável, o que exige um controle de temperatura acurado durante o seu armazenamento e transporte para evitar que ela se degrade. O transporte e armazenamento incorretos podem levar a análises incorretas (geralmente falsos-negativos).
  2. Poucos laboratórios especializados em sua dosagem: o que impossibilita a análise da calcitonina no momento de sua coleta (ideal) e exige armazenamento e transporte para laboratórios terceirizados.
  3. Valores de referência: a dosagem de calcitonina pode ser feita do sangue do paciente (calcitonina sérica, exame mais comum e menos sensível), ou a partir da lavagem da agulha que se utilizou na punção do nódulo (calcitonina de “lavado”, não tão comum porém mais sensível). Cada um destes exames possuem valores de referência específicos e que muitas vezes são confundidos, ou não utilizados de forma correta em sua interpretação.

Desta forma, a utilização de outros biomarcadores pode ser uma alternativa para esse problema. Os microRNAs vêm se destacando como importantes biomarcadores para CMT e outros carcinomas de tireoide ⁵, ⁶, ⁷.

Os exames mir-THYpe® full e mir-THYpe® pre-op utilizam alguns microRNAs como biomarcadores em suas análises diagnósticas e prognósticas. No caso do câncer medular de tireoide, a expressão do microRNA-375 indica se o nódulo investigado é um CMT (resultado positivo) ou se não é um CMT (resultado negativo).

Cerca de 45% dos casos de câncer medular de tireoide não são identificados antes da cirurgia por se “confundirem” com citologias indeterminadas, como o Bethesda III ou IV ⁸,⁹.

A identificação do CMT antes da cirurgia é de extrema importância para definição do plano cirúrgico ideal e do tratamento mais adequado. Quando sua identificação é feita apenas após a cirurgia de tireoide é possível que o paciente tenha que se submeter a nova intervenção cirúrgica.

 

O gene RET e suas implicações

As diferentes formas clínicas do câncer medular de tireoide, principalmente as hereditárias, estão relacionadas com mutações no gene RET. Este gene está ligado tanto ao diagnóstico do CMT, quanto a sua agressividade, ou seja, dependendo de qual mutação esteja presente no gene RET, o carcinoma naquele paciente poderá ser mais agressivo³. Por estarem presentes principalmente na forma hereditária da doença, recomenda-se realizar o rastreamento genético dessas mutações nos familiares de primeiro grau do paciente diagnosticado.

Isso é importante pois, se parentes próximos, especialmente crianças, tiverem a mutação RET em um exame de sangue ou de saliva, por exemplo, a glândula tireoide poderá ter que ser removida de forma preventiva, antes que o CMT tenha a chance de se desenvolver ou que esteja pelo menos em seus estágios iniciais ¹⁰.

 

Tratamento do câncer medular de tireoide

O tratamento é, primariamente, a cirurgia por meio da tireoidectomia total, ou seja, a remoção total da glândula tireoide. Muitas vezes, os pacientes com formas mais avançadas do CMT terão focos secundários do câncer de tireoide (metástases) presentes nos linfonodos do pescoço (“ínguas”), ou na parte superior do tórax ⁸. Quando o diagnóstico do câncer medular de tireoide é feito antes da cirurgia, estes linfonodos são geralmente removidos no momento da cirurgia (conhecido como esvaziamento cervical). Após a cirurgia, normalmente, os pacientes precisam tomar medicação para reposição hormonal por toda a vida.

Devido a isso, é importante que, quando possível, a investigação do CMT seja realizada antes da cirurgia, pois sua identificação pode auxiliar na personalização da conduta cirúrgica, indicando sua urgência e extensão. Os exames mir-THYpe® full e mir-THYpe® pre-op, analisam biomarcadores para CMT e auxiliam no seu diagnóstico (ou em sua exclusão) de forma precoce e podem auxiliar o médico no melhor manejo do paciente com CMT.

 

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Referências

  1. INCAhttps://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/tireoide
  2. Patrícia K.R. Magalhães; Margaret de Castro; Lucila L.K. Elias; Léa M.Z. Maciel. Medullary thyroid carcinoma: from definition to genetic bases https://doi.org/10.1590/S0004-27302003000500004
  3. Maia AL, Siqueira DR, Kulcsar MA, Tincani AJ, Mazeto GM, Maciel LM. Diagnosis, treatment, and follow-up of medullary thyroid carcinoma: recommendations by the Thyroid Department of the Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2014 Oct;58(7):667-700. https://doi.org/10.1590/0004-2730000003427. PMID: 25372577.
  4. Roche – https://www.corporate.roche.pt/pt/inovacao-e-desenvolvimento0/ensaios-clinicos/ensaios-clinicos-para-cientistas/biomarcadores-.html
  5. Mian C, Pennelli G, Fassan M, Balistreri M, Barollo S, Cavedon E, Galuppini F, Pizzi M, Vianello F, Pelizzo MR, Girelli ME, Rugge M, Opocher G. MicroRNA profiles in familial and sporadic medullary thyroid carcinoma: preliminary relationships with RET status and outcome. Thyroid. 2012 Sep;22(9):890-6. doi: 10.1089/thy.2012.0045. Epub 2012 Jun 29. PMID: 22747440; PMCID: PMC3429275. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3429275/
  6. Pritchard, C., Cheng, H. & Tewari, M. MicroRNA profiling: approaches and considerations. Nat Rev Genet 13, 358–369 (2012). https://doi.org/10.1038/nrg3198 https://www.nature.com/articles/nrg3198
  7. Knyazeva M, Korobkina E, Karizky A, Sorokin M, Buzdin A, Vorobyev S, Malek A. Reciprocal Dysregulation of MiR-146b and MiR-451 Contributes in Malignant Phenotype of Follicular Thyroid Tumor. Int J Mol Sci. 2020 Aug 19;21(17):5950. doi: 10.3390/ijms21175950. PMID: 32824921; PMCID: PMC7503510. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7503510/
  8. Trimboli P, Giannelli J, Marques B, et al. Head-to-head comparison of FNA cytology vs. calcitonin measurement in FNA washout fluids (FNA-CT) to diagnose medullary thyroid carcinoma. A systematic review and meta-analysis. Endocrine 2022;75(1):33–39; doi: 10.1007/s12020-021-02892-x.
  9. Trimboli P, Treglia G, Guidobaldi L, et al. Detection rate of FNA cytology in medullary thyroid carcinoma: a meta-analysis. Clin Endocrinol (Oxf) 2015;82(2):280–285; doi: 10.1111/cen.12563.
  10. ATA – American Thyroid Associationhttps://www.thyroid.org/medullary-thyroid-cancer/
Marcos Santos, Ph.D
Biólogo molecular, pesquisador, doutor em genética humana e fundador da Onkos Diagnósticos Moleculares